Nem sempre nos apercebemos da presença de alguns sons, nem do significado que estes podem ter. Normalmente, só reparamos na sua existência quando, por algum motivo, estes deixam de existir.
Foi precisamente isso que se passou comigo quando, no primeiro sábado após se ter iniciado a guerra na Ucrânia, me desloquei ao Liceu de S. João do Estoril para falar com a Directora da Escola Ucraniana de Cascais “Oberig” (Amparo).
Uma escola onde, semanalmente cerca de uma centena de crianças e jovens, de origem ucraniana, se juntam para aprender a sua língua, a sua história e cultivar as suas tradições.
Nessa manhã, ao entrar na sala de convívio do liceu, senti que algo de estranho se passava. Contrastando com o habitual ruído das correrias, das conversas e das gargalhadas, tão característico de um espaço escolar onde predomina a vitalidade e alegria da juventude, o que se podia ouvir era apenas um profundo silêncio.
Um silêncio perturbador, explicado pela Directora Ulyana, que resultava do elevado estado de ansiedade em que estes alunos se encontravam e da enorme preocupação que reinava na comunidade ucraniana de Cascais, como consequência das trágicas notícias que chegavam do seu país.
Perante tão dramática explicação, e tendo em conta que a Associação de Moradores da Quinta da Carreira (AMQC) tem cerca de uma centena de sócios de origem ucraniana, decidi promover, para essa mesma tarde, uma reunião com os representantes da comunidade Ucraniana, no sentido de apurar de que forma a AMQC podia ajudar e quais eram as prioridades nessa ajuda.
No dia seguinte, domingo, juntamente com os meus colegas da Direcção da AMQC, iniciei a elaboração de um Plano de Apoio à Comunidade Ucraniana com dois eixos principais: criação de condições de recepção e integração dos refugiados que cheguem a Cascais e apoio humanitário à população ucraniana que permanece no seu país.
Ainda nesse mesmo dia, entrei em contacto com o Sr. Presidente da CMC, Dr. Carlos Carreiras, no sentido de, conjuntamente com a autarquia, procurarmos encontrar soluções para os problemas apresentados pelos representantes da comunidade ucraniana, tendo este, prontamente apresentando a total disponibilidade do Município de Cascais, em colaborar no movimento de solidariedade com o povo ucraniano, ficando agendada uma reunião para o dia seguinte.
Estava então, dado o primeiro passo para o que viria a ser, mais uma extraordinária mobilização de sentido humanitário da sociedade Cascalense, envolvendo as famílias, a associações, as empresas e, naturalmente, a autarquia, que lançou uma exemplar e robusta operação de apoio aos refugiados da Guerra e a toda a Comunidade Ucraniana de Cascais.
Na AMQC, enquanto for necessário, continuaremos: a receber donativos para enviar para a Ucrânia, a participar em eventos solidários (com a nossa classe de danças *Estrelinhas*), a acompanhar e tentar suprimir as necessidades das famílias que vão chegando e a receber gratuitamente todos as crianças que queiram integrar a nossa Escola de Danças.
Manterei viva a esperança de ver o som dos bombardeamentos na Ucrânia, serem rapidamente substituídos pelos sons da reconstrução das cidades e de voltar a ouvir maravilhoso ruído das correrias, das conversas e das gargalhadas dos jovens estudantes.”
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